terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Barrigas de luz

Tá bem tarde, eu deveria estar dormindo, mas como hoje é o dia X das festividades pra Shiva estão fazendo uma vigília, que consiste em ficar entoando mantras até o sol raiar, o que vai acontecer só as 7h da manhã. O auto falante do nosso ashram fica exatamente na nossa janela, ou seja, só vou dormir quando o cansaço for mais forte que a audição.
Aproveito para meditar e enviar boas vibrações às mães que acompanho e que estão esperando seus filhotes nascerem. Tenho uma forte ligação com cada uma dessas crianças e me sinto honrada em participar da história da chegada delas. São filhos e filhas de mães fortes, que sabem o que querem, que vão receber seus filhos com dignidade, amor, presença. Mulheres que passarão por um dos momentos mais importantes e transformadores da vida. Não importa se é primeiro ou quinto filho, parir de verdade é dos processos terapêuticos mais intensos que existem. Anos de análise de economia, cura emocional e física em muitos casos. A cada dia envio meu amor a essas mães e todas as grávidas que conheço. Atualmente estou também com o pensamento bem firme em 2 mulheres que acabaram de parir e precisam de tranquilidade pra amamentar e se estruturar com os desafios que as crianças trouxeram. Meu amor e minha solidariedade a vocês, Lucila e Fernanda, mulheres fortes, que recebem com sabedoria o que a vida traz. Passo a passo tudo vai tranquilizando. Daqui envio a força da transformação que toda a festividade para Shiva nos traz.

Mahashivaratri+Kumbhmela

Tudo isso aconteceu há uns dez dias, mas só deu pra postar agora, que tenho meu maridinho amado comigo novamente.

A vibe aqui está forte. Estamos no meio mo mahashivaratri, festividade em homenagem a Shiva, deus da destruição para o renascimento, da transformação. Essa já é uma época bem movimentada por aqui já que shiva é dos deuses mais venerados pelos induístas. Ainda se fosse festival de Krishna, deus do amor, a onda estaria mais mansa. Mas deus da transformação pensem só...

Acontece que justo esse ano está tendo também o kumbamela que é um dos momentos de maior aglomeração humana do mundo. Também em louvor a Shiva.Tem sadu pra tudo o que é lado, nas ruas, nos bancos, nas calçadas.Os sadus veneram shiva. Eles usam tangas como vestimenta, tem sempre um cajado na mão, um cabelo que une com a barba e as vezes um pano laranja pra se cobrir. Não se locomovem de nenhuma outra forma que não seja a pé e só se alimentam com o que é doado ou comprado com doação.Dizem que passam cinzas de pessoas mortas no corpo, mas isso ainda não consegui constatar pessoalmente, pois meu diálogo com eles ainda não saiu do “hari om!” “namastê”. Todo santo dia a gente passa pela rua mais lotada de sadus e todos vão nos falando hari om e namastê. E o tanto que eles dão de risada da gente... Visualizem a cena: eu que estou mais magra que um palito, sozinha empurrando o carrinho com o Miguel e carregando Benjamim no sling.Pra eles carrinho de criança é coisa de outro mundo. E eles acham o máximo porque eu tropeço, a roda do carrinho entala nas pedras do caminho... E não têm problema nenhum em ficar olhando e rindo. Não fazem isso disfarçados, acho até bacana. O indiano no geral, se acha engraçado dá risada. Não importa se é do seu cabelo, da sua roupa ou da maneira com que vc carrega os filhos. Eles simplesmente riem...

Agora, o que eu acho chato é que ninguém vem dar uma mãozinha.Putisgrila,ninguém! Aí eu já acho uma falta de solidariedade humana para com a irmã. Mas beleza...coisas da Índia.

PS: Tenho fotos incríveis das cenas descritas mas a internet aqui é daquelas...assim que conseguir uma conexão mais rápida eu posto.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

tentando...



estava tentando mais um post mas o benja estayh impossivel no meu colo...

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Chegar na india







Chegar na Índia não é fácil. Parece que só vem quem quer muito. Já no Brasil começam as provações com todos, ninguém escapa.Uma pessoa do grupo do Gil teve uma crise existencial um dia antes da partida e resolveu não ir. Na última hora ( última hora mesmo) repensou e mudou de idéia. Chegou atrasada ao aeroporto, mas deu tempo. Chegou aqui e se encontrou. Tá se sentindo em casa, disse que o coração dela mora aqui. Outra pegou uma nevasca na Europa e perdeu o vôo para Dehli, onde nos encontraria. Teve que vir no dia seguinte, sozinha, sem nunca antes ter pisado em solo indiano. Sinceramente até agora não sei como ela se virou na caótica estação de trem de Haridwar, mas conseguiu e (após 40 horas de viagem) chegou. A gente também teve as nossas provações em São Paulo: questões de saúde, financeiras, o visto que ficou pronto na véspera...mas tudo foi se ajeitando conforme nos firmávamos no propósito. Para chegar aqui foram 15h de vôo até Dubai, 7h de espera no aeroporto de Dubai,4h de vôo até Dheli, pernoite em Dehli,5h de trem até Haridwar e umas 2h de carro até nosso ashram em Rishikesh. 2 malas, 2 mochilas e 2 meninos a tiracolo.
As primeiras 15h foram puuunks. Benja chorou muuito, tava com dor de barriga, com aquele peito dele que sempre ataca em situações de estresse, um ar condicionado gelado pra caramba. Se dormi meia hora foi muito. Saímos do vôo desbagaçados.O chá de aeroporto, que imaginei ser o pesadelo da história, foi bem tranqüilo. Os meninos capotaram, a gente conheceu Marcelo, um arquiteto muito gente boa e ficamos batendo papo horas a fio tomando chocolate quente. Ele estava indo para o sul receber a Diksha, uma bênção que após receber o ensinamento e a iniciação a pessoa pode aplicar em outras. Parece ser tipo Reiki,algo bem interessante. Depois uma amiga do grupo nos disse que esse Marcelo faz um programa na TV com o Luciano Hulk. Algo relacionado à construção de casas populares...I don´t know...
O outro vôo foi sussa, o hotel em Dehli tinha uma cama maravilhosa, os meninos estavam exaustos e todos dormimos o sono dos justos. O chato foi que às 23h os pimpolhos acordaram e não dormiram mais até as 4h da manhã, nossa hora de levantar. Pegamos aqueles trenzinhos mequetrefes daqui da Índia que eu adoro. Amaria fazer uma viagem nele sem bebês. Tem ventiladores de ferro no teto, servem umas comidas indianas duvidosas e uma água morna para o chá do tipo bebeu-morreu. Os banheiros são um caso totalmente a parte. Não fotografei pq era muita coisa pra administrar: cabine balançando, xixi descendo, cuidado pra não encostar em nada,filhos esperando... mas na volta vou fazer uma visita ao banheiro só para registro. Só que na foto não sai o cheiro, quesito bem relevante na composição do ambiente. Dá-lhe apnéia! Os banheiros daqui me surpreendem a cada dia.
Chegar em Rishikesh me trouxe paz no coração. Pessoas simples, comida simples, um verde rio correndo a cidade. Macacos,cachorros, vacas e homens coexistindo em uma harmonia barulhenta, suja, totalmente atípica. O que me faz perceber que o que está fora de nós não é quase nada mesmo. Que saudades eu estava desse lugar. A terra em que Benjamim foi concebido e que nos trouxe mais um tanto de boas experiências.
Plena gratidão. 7.2.2010